segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Memórias que se vão

Gente, existem doenças que são terríveis, dolorosas, fatais. Mas outras são da mesma forma terminais, mas misteriosas, assustadoras, cruéis. O mal de Alzheimer é uma delas. Na novela Araguaia, Mariquita, criada magistralmente como sempre por Laura Cardoso, começa a dar sinais dessa doença que considero cármica.
Tenho vivência desse mal, pois perdi uma irmã vitimada pela doença. Coisa terrível: a memória lentamente se apaga, esquecendo coisas, nomes. Aumenta gradativamente e esquece filhos, parentes até finalmente esquecer de si mesma. Não sabe mais comer, nem sabe o que é comida e nem fazer necessidades fisiológicas. É uma doença longa, anos e anos de martírio.
Vivo me policiando, pois do lado materno de minha família quatro das cinco tias foram vítimas do Alzheimer. E com muito medo sinto passos leves se aproximando… Os nomes que não me lembro, as fisionomias que se apagam, a comida esquecida no fogo, os pesadelos, a vergonha diante da impaciência das pessoas quando me esqueço de algo. A vergonha de começar a sentir-se um estorvo.
Sei que chocarei minha cara leitora, mas, no caso do Alzheimer diagnosticado, sou favorável à eutanásia. Sou a favor da vida enquanto ela pode ser vivida com dignidade. E esse mal tira toda essa possibilidade. A pessoa se torna um vegetal.
As lembranças de dona Mariquita estão sumindo como milho comido pelas galinhas. Cara leitora, preste atenção em dona Mariquita. E conte todas as suas bênçãos, pois a vida às vezes apronta conosco.

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